Não gosto de feriados. Essa obrigação de se divertir ao extremo, de fazer tudo o que não se faz nos (tantos!) dias de que dispomos ordinariamente, é algo meio fake pra mim.
Os solteiros vão pras baladas da estação; todas, se possível. Os casais vão fazer programas caretas com outros casais. Já quem não quer sair, fica em seu recinto, desde que ele se chame hotel. Pois eis a lição número um do feriado: todos os programas devem estar sitos bem longe de casa. Da casa nossa de cada dia não queremos nem ouvir falar, já que “se não se viaja, não é feriado”.
Não precisa nem ser um final de semana prolongado. Em caindo o dia comemorativo num sábado ou domingo, alguém poderia pensar tratar-se de um evento dotado da mais completa inutilidade, irremediável e infeliz. Mas não, o tão grandiloqüente dia nunca se deixa abater, pois sua hiper-ultra-condição-de-Feriado já guarnece o fim de semana de toda uma magia especial, jamais vista em qualquer dia do ano. Vejam bem, meus caros, não se trata de um fim de semana, assim, borocoxô: estamos falando de um Senhor Feriado. Com Feriado não se brinca.
Quando o Senhor Feriado inventa de cair no dia de feira, aí é que é esculhambação geral. Segunda lição do feriado: “se não imprensar, não é feriado”, que adquire coercitividade plena no meu Brazil.
E aí inventam de fazer esses feriados temáticos. Que são os que fazem mais sucesso entre a rapaziada, diga-se de passagem. Carnaval, semana santa, são joão, natal, essas coisas. Cada um com sua devida roupinha, sua musiquinha, sua comidinha. Convenhamos: que chatice.
Proponho uma revolução. Chega de mesmice. A partir de agora, nada de feriados, ao menos não do modo convencional. Nada de finaizinhos de semana prolongadinhos e chatinhos iguaizinhos para todo o mundinho. Nada de obrigação de se divertir, já temos muitas. Agora cada um que se vire. Proponho uma cota de feriados por pessoa, a ser usada como e quando bem se entenda. Você, por exemplo, pode preferir a segunda-feira (que clichê, mas entendo, é difícil se desvencilhar); resolvido: terá uma segunda-feira a cada três meses para fazer o que quiser. Já outra pessoa, por um motivo qualquer, pode preferir a quinta; essa logística é problema de quem irá pô-la em prática. Só sei que assim pelo menos cada um vai poder fazer o que quer, na hora em que quer, sem precisar ficar olhando pras malditas bandeirinhas coloridas, balõezinhos, pinheirinhos e luzes piscando pela cidade. E o melhor de tudo: sem precisar desejar “feliz nada” pra ninguém.
Quem tiver achando ruim, que tire férias logo de uma vez. Seja homem.
4 comentários:
Meudeus. Tu tens um blog. E é divertidíssimo! Lerei, lerei.
cheiros!
Ninaaaaaa, gostasse amore? e tu tens também e eu não sabia...pois é, resolvi botar p fora minhas neuroses...kkkkkkkkkkkkkk bjinhos lindona :)
LIIINDO TEXTO, Marina.
Porém, só uma inquietação com a proposta lançada: como você resolveria o problema da prévia delimitação de um dia da semana de feriado pra cada um? Afinal, Determinar que sempre terei que sair numa determinada segunda-feira, por exemplo, seria bloquear a abertura de possibilidades estéticas em relação ao querer-sair-ou-fazer-o-o-que-bem-quiser. Você pode, por algum motivo qualquer, querer sair numa quarta-feira futura. E pq não? Delimitando o dia, vc fecha os horizontes mais uma vez. Só que o fechamento é individual, e não coletivo (no caso do mesmo feriado pra todo mundo). Ou seja, continua do mesmo jeito, e mais liberal (eu diria).
Beijossssss
Eu sempre escolheria, como bom brasileiro, ou a terça ou a quinta pra ser feriado. Assim ia poder imprensar a segunda ou a sexta, e ganhava sempre um diazinho - como não posso negar que gosto.
Mas tenho que dizer que gosto dos nossos feriadinhos. A fato de "todo mundo ir pra Gravatá na semana santa" já me aperreou, mas hoje acho conforto nisso. É só - sabendo desse fato - fazer uma coisa diferente. Acabo aproveitando os feriados do jeito que eu quero, inclusive ficando em casa quando me convém. :P
Beijos, Má!
PS: Curiosidade: por aqui, quando o feriado cai no final de semana, ele é automaticamente transferido para o póximo dia útil. Soa brasileiro, hein?
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