Havia quinze anos procurava-o no último capítulo, no meio de todos aqueles Wallies tão iguais a ele. Era disparado o capítulo mais difícil, claro. Todos eles tinham os mesmos óculos, a mesma roupa, o mesmo sorriso, a mesma magreza; tudo isso me levava a ficar horas debruçada sobre o livro. Um dia, depois de muito procurar, consegui encontrar o sapato, o sapato dele, perdido entre vários outros e outras coisas. Mas sempre faltava o pé que lhe correspondia. E o resto que acompanhava o pé.
O tempo passou, já nem lembrava de Wally tanto assim, tinha coisas mais importantes a fazer, como me desesperar com a vida. Entre um e outro desespero, defrontei-me com o livro naquele quarto da casa de campo, onde é possível parar um pouco de pensar na vida e vivê-la de fato. Nem que seja por alguns instantes. Minutos. Por incrível que pareça, foi esse o tempo necessário para eu finalmente distinguir uma meia naquele desenho emaranhado. Sim, como bom menino que é, ele usa meias: um pé listrado em vermelho e branco, entre tantos óculos, roupas, sorrisos, magrezas. A mania dele de combinar a cor das meias com a da camisa pode ter sido a razão por que não o encontrei antes. Mania que me custou distinguir um pé. Pés listrados são menos esperados que pés lisos. Mas isso não mais importa. Importa é que ele, enfim, antes sempre à espreita, agora sabia: a hora certa, sem mais nem menos, chegou.
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